Entrevista com o abrecampense, Padre José Estevam de Paiva

Padre José Estevam, o senhor literalmente nasceu na Fazenda Boa Sorte? Sua infância foi na fazenda? Como foi?
Sim, nasci nesta casa, que carinhosamente chamamos de FAZENDA BOA SORTE. Passei minha infância até os 13 anos aí. Foi um tempo de contato direto com a família, com o mundo rural e a simplicidade da roça. E sou o mais velho de 7 irmãos e irmãs. Meus pais sempre muito trabalhadores. E todos nós, ainda crianças éramos acostumados ao trabalho. Frequentei escolas diversas: em casa, na Cachoeira Torta, na casa do Tio Tatão de Paiva.

Como surgiu sua vocação sacerdotal?
De 13 para 14 anos fui estudar no colégio interno, em Manhumirim, MG. Colégio PIO XI dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora (Colégio dos Padres Sacramentinos). Fui estudar, por ser um estudo melhor, e ao terminar os cursos iniciais, seguiria para Belo Horizonte para cursar Direito. Era o meu ideal até o momento. Mas em contato com os Padres Sacramentinos de Nossa Senhora, fiquei encantado com aquele ideal. Naquele contexto sempre os achei pessoas competentes, felizes e alegres. Fui tocado por aquele testemunho. Em 1959, de Manumirim mesmo fui para Espera Feliz, MG, para o Seminário Menor.

Abre Campo é berço de muitíssimos padres. É só coincidência? O senhor acredita existir uma referência?
Talvez referência não seja a melhor palavra, a vocação Sacerdotal é um chamado de Deus. Conforme relatos Bíblicos e da tradição, Deus usa de muitos meios para convocar. Abre Campo sempre teve filhos padres. Até onde pesquisei, antes de minha ordenação, uns 7 padres. A partir da minha ordenação que aconteceu, no dia 13 de maio de 1973, já foram ordenados 12 padres na Matriz Santana. E com a minha ordenação aconteceu um despertar vocacional. É bom lembrar que existem mais padres filhos do município de Abre Campo, que foram ordenados em outras Dioceses. São uns 4 a 5, se não me engano. NB fui ordenado por Dom Antônio Afonso de Miranda, SDN, Bispo emérito de Taubaté SP. É o Bispo mais velho do Brasil, com 99 anos de idade e faz parte da minha Congregação dos Missionários Sacrmentinos de Nossa Senhora.

Normalmente, os padres vivem experiências em lugares diferentes. Onde o senhor esteve como pároco?
Já desenvolvi muitas funções: fui Vigário Paroquial de diversas Paróquias; Pároco de Bom Despacho, MG, da Paróquia S. Bernardo em Belo Horizonte, MG; da Paróquia de ALTA FLORESTA, MT; da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição em ALTO JEQUITIBÁ, MG; da Paróquia São Sebastião em ESPERA FELIZ, MG. Já exerci outras funções: Reitor do Seminário Maior Padre Júlio Maria, em Belo Horizonte, MG; Diretor do CETESP (um curso de Espiritualidade e Teologia) no Rio de Janeiro, RJ. Presidente da CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil, nos estados de Minas e Espírito Santo). Superior Geral dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora (por dois mandatos), com sede em Manhumirim, MG. Formador dos estudantes de Filosofia em Maracanaú, CE e em Belo Horizonte, MG. Formador dos Estudantes de Teologia, em Belo Horizonte, MG, por duas vezes.

Padre José Estevão, acredito que os padres sempre se posicionaram politicamente. Porém, nos últimos anos, esse posicionamento tem sido mais veemente. E o senhor, também é ativo na política?
Na minha vida Sacerdotal sempre orientei os cristãos a serem fermento na massa. Nunca me posicionei politicamente. E pelas normas do Direito Canônico o padre não pode se filiar a um partido e nem se candidatar. Os que tomam esta posição é em desobediência à Igreja e o fazem por conta própria. Apenas um fato: tomei conta da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Alto Jequitibá por 8 anos e tinha um bom entrosamento com as Igrejas Evangélicas. E mais de 10 pastores de diversas denominações fizeram duas reuniões comigo, para me convencer a ser o candidato a prefeito daquele município. Claro que não aceitei e não era mina missão.
Quais foram suas experiências mais marcantes dentro da igreja?
As mais marcantes foram: 1 – ser Superior Geral de uma Congregação Religiosa. Foi difícil e como cresci; 2 – Formação dos religiosos e presbíteros para o mundo atual; Dirigir o curso no Rio de Janeiro (com participantes do Brasil inteiro, de alguns países da América Latina e África); e no exercício sacerdotal lidar com os mistérios das pessoas.